Crónica de um novo Bolhão anunciado | em jeito de ode ao Mercado do Bolhão, em jeito de ode ao Porto

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Crónica de um novo Bolhão anunciado | em jeito de ode ao Mercado do Bolhão, em jeito de ode ao Porto

Crónica de um novo Bolhão anunciado 

em jeito de ode ao Mercado do Bolhão,
em jeito de ode ao Porto

Crónica Viver o Porto
por Paula Calheiros

***
Admito que me levantei entusiasmada e curiosa, na manhã do passado dia 15 de Setembro.
Ia finalmente reabrir o tão esperado Mercado do Bolhão, depois de quatro anos encerrado para obras.
Quatro anos com aquele monumento fechado à cidade, para um restauro tão necessário mas que, na altura, em que de facto encerrou, mais parecia que nos estavam a encerrar a nós ou a tirar-nos um pedaço de nós, o “nosso” Bolhão.

Nesse dia, voltando agora ao dia da reabertura, e ao meu entusiasmo, calhou ter boleia até à Baixa, cedinho pela manhã.

Não que a boleia fosse importante, porque me desloco facilmente e assiduamente de metro ou de autocarro, essencialmente quando o destino é a Baixa, e até porque se tivesse ido de metro teria tido a oportunidade de ter estreado a passagem pedonal direta que agora liga a estação de metro do Bolhão, ao Mercado do Bolhão (e que antes, não existia).

Mas com a boleia desfrutei um bocadinho mais da companhia do meu marido – sabem sempre bem estes pequeninos momentos juntos, num dia de semana e de trabalho, e fora da rotina – tomamos um primeiro café numa padaria despretensiosa e que desconhecíamos, na Rua do Bonjardim, estacionamos mesmo ali em frente, coisa rara, mas ainda era cedo e havia alguns lugares.

Já com o conforto do café tomado e de uma torrada partilhada, despedimo-nos um do outro com um até logo, envolto no carinho do dia soalheiro e bonito que já se fazia sentir.

E eu lá fui então, de encontro ao renovado Mercado do Bolhão.
A abertura oficial  – com o abanar do sino colocado numa das entradas do Mercado, na Rua Fernandes Tomás  – foi feita pelo Presidente da Câmara do Porto – Dr Rui Moreira, – e aconteceu logo às 8h da manhã – mas esse momento simbólico eu não assisti, estaria muito provavelmente a pedir à empregada simpática da padaria despretensiosa que a torrada tivesse pouca manteiga e que gostaria que o meu café fosse cheio, por favor …

Entrei no Mercado ela entrada da Rua Formosa – entrada que se localiza em frente à Confeitaria do Bolhão – contornando já ali uma azáfama de gente – que ora parava, ora entrava, ora saía, ora tirava fotografias, telemóveis ao alto, muitas câmaras fotográficas também.

Passei essa azáfama inicial e depois, parei.
Parei, e deixei-me estar parada, porque me emocionei.

Sou uma tonta, eu sei, mas a verdade é que sempre que estou perante um monumento ou lugar icónico grandioso, seja em que ponto do planeta for, me emociono.

E naquele dia, 15 de Setembro de 2022, estava ali.
No Mercado do Bolhão, e
de lágrima no canto do olho.
Estava na minha cidade, a vivenciar a reabertura de um mercado, mas que afinal era a reabertura de um lugar grandioso, era a reabertura do  “nosso” Bolhão.
Deixei-me ficar ali, como que a fazer parte de um pedaço de História,
ou de um pedaço de estórias, de que tanto e sempre se fazem as cidades.

E senti as pessoas felizes.
As que simplesmente deambulavam, as que compravam, as que vendiam.
Senti sorrisos genuínos e alegria, e uma sensação de que bom que é “voltar a casa”.

Senti – sejamos sinceros – que estávamos todos (as pessoas do Porto) com saudades do Mercado do Bolhão, e que a cidade precisava do regresso do Mercado do Bolhão.
E modéstia à parte, está tão bonito.

***
Percorri as bancas existentes, deambulando entre cores, cheiros, entre bons dias e sorrisos e um outro café.
Subi e desci mais do que uma vez, pelas escadas que dizem subida, ou pelas escadas que dizem descida – escritas nessas mesmas letras de que temos memória, percorri os corredores e o varandim, e as sombras que se desenham dessa varanda, e que fazem as delícias de qualquer fotógrafo.

Descobri os elevadores – fazem sentido existir – e descobri a passagem para o metro, que como já referi é novidade, entrei e tornei a sair para explorar cada uma das (quatro) possíveis entradas.

E voltei mais demoradamente à banca da D. Bininha, banca de peixe fresco , e à da Sara
refiro-me a estas duas bancas especialmente porque tenho várias fotografias da D. Bininha e da Sara tiradas por mim nos tempos do antigo Bolhão….., uma da D. Bininha em 2015 para um artigo do Viver o Porto na série Porto Unique Stories, e que convido a relerem.
Dizia na altura a D. Bininha:

“aqui somos todos uma família, e as tradições vão-se mantendo.
Adoro este contacto com as pessoas, e o dia-a-dia das pessoas do Porto.
Temos o coração na boca”

(Albina Ferreira – D. Bininha).

crónica viver o porto

Tão verdade.
As pessoas do Porto têm o coração na boca, e o Porto tem um grande coração.
E este regresso do Mercado do Bolhão deixa-nos de coração cheio –

obrigada desde já e parabéns, a quem fez com que este regresso acontecesse.

***
Deixei o Mercado do Bolhão perto da hora do almoço, a vida lá fora continuava.
Vim com mais uma fotografia que fiz questão de tirar à D. Bininha, e outra à Sara, e com outras tantas que tirei ao acaso.

No regresso a casa já não tive boleia, mas viajei sentada num lugar à janela do andar de cima do autocarro 500, a paisagem era o rio e depois o mar e também essa paisagem é sempre uma paisagem tão Porto, o que nesse dia serviu para me abstrair (a custo) do excesso de turistas que me rodeavam em pleno 500 ….(este tema dará para outra crónica…..)

***
À noite, já em casa, já de novo com o meu marido, e com os filhos a darem palpites contraditórios do que poderíamos cozinhar para o jantar,
vi os vários diretos partilhados nas redes sociais de quem foi passando nesse dia pelo Mercado do Bolhão:
e vi o Pedro Abrunhosa que deu um concerto surpresa mais ao final do dia, vi a Sara (a Sara da banca do peixe) ao lado dele a gritar os seus pregões, o Rui Moreira Presidente da Câmara que lá voltou e que só podia estar radiante de comovido,
vi um Mercado do Bolhão repleto, de alegria, de vida, e de pessoas que agradeciam.

***

Foi assim a reabertura.
Agora, o Porto e nós, seguimos os nossos dias.
E seguimos com a certeza de que o coração do Bolhão voltou a bater,
e com o slogan de que agora o Bolhão é para sempre, ….

Teremos de ser também nós, no entanto, a fazer com que esse coração, não páre de bater.

Quanto ao meu, coração, bate ainda e sempre muito forte, – por ti, marido – e pela minha cidade, o Porto.

Crónica Viver o Porto

Crónicas escritas ao correr da pena, por Paula Calheiros, autora do blog Viver o Porto.
Uma outra forma de sentir o Porto.

para ver mais crónicas, AQUI.

Mercado do Bolhão

Rua Formosa
4000 – 214
Porto

8h-20h – segunda a sexta
8h – 18h – sábado
encerrado ao domingo

www.mercadobolhao.pt

By | 2022-10-21T16:22:33+01:00 September 21st, 2022|chronicles, streets & places|1 Comment

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