Crónica de um novo Bolhão anunciado
em jeito de ode ao Mercado do Bolhão,
em jeito de ode ao Porto
Crónica Viver o Porto
por Paula Calheiros
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Admito que me levantei entusiasmada e curiosa, na manhã do passado dia 15 de Setembro.
Ia finalmente reabrir o tão esperado Mercado do Bolhão, depois de quatro anos encerrado para obras.
Quatro anos com aquele monumento fechado à cidade, para um restauro tão necessário mas que, na altura, em que de facto encerrou, mais parecia que nos estavam a encerrar a nós ou a tirar-nos um pedaço de nós, o “nosso” Bolhão.
Nesse dia, voltando agora ao dia da reabertura, e ao meu entusiasmo, calhou ter boleia até à Baixa, cedinho pela manhã.
Não que a boleia fosse importante, porque me desloco facilmente e assiduamente de metro ou de autocarro, essencialmente quando o destino é a Baixa, e até porque se tivesse ido de metro teria tido a oportunidade de ter estreado a passagem pedonal direta que agora liga a estação de metro do Bolhão, ao Mercado do Bolhão (e que antes, não existia).
Mas com a boleia desfrutei um bocadinho mais da companhia do meu marido – sabem sempre bem estes pequeninos momentos juntos, num dia de semana e de trabalho, e fora da rotina – tomamos um primeiro café numa padaria despretensiosa e que desconhecíamos, na Rua do Bonjardim, estacionamos mesmo ali em frente, coisa rara, mas ainda era cedo e havia alguns lugares.
Já com o conforto do café tomado e de uma torrada partilhada, despedimo-nos um do outro com um até logo, envolto no carinho do dia soalheiro e bonito que já se fazia sentir.
E eu lá fui então, de encontro ao renovado Mercado do Bolhão.
A abertura oficial – com o abanar do sino colocado numa das entradas do Mercado, na Rua Fernandes Tomás – foi feita pelo Presidente da Câmara do Porto – Rui Moreira, – e aconteceu logo às 8h da manhã – mas esse momento simbólico eu não assisti, estaria muito provavelmente a pedir à empregada simpática da padaria despretensiosa que a torrada tivesse pouca manteiga e que gostaria que o meu café fosse cheio, por favor …
Entrei no Mercado ela entrada da Rua Formosa – entrada que se localiza em frente à Confeitaria do Bolhão – contornando já ali uma azáfama de gente – que ora parava, ora entrava, ora saía, ora tirava fotografias, telemóveis ao alto, muitas câmaras fotográficas também.
Passei essa azáfama inicial e depois, parei.
Parei, e deixei-me estar parada, porque me emocionei.
Sou uma tonta, eu sei, mas a verdade é que sempre que estou perante um monumento ou lugar icónico grandioso, seja em que ponto do planeta for, me emociono.
E naquele dia, 15 de Setembro de 2022, estava ali.
No Mercado do Bolhão, e
de lágrima no canto do olho.
Estava na minha cidade, a vivenciar a reabertura de um mercado, mas que afinal era a reabertura de um lugar grandioso, era a reabertura do “nosso” Bolhão.
Deixei-me ficar ali, como que a fazer parte de um pedaço de História,
ou de um pedaço de estórias, de que tanto e sempre se fazem as cidades.
E senti as pessoas felizes.
As que simplesmente deambulavam, as que compravam, as que vendiam.
Senti sorrisos genuínos e alegria, e uma sensação de que bom que é “voltar a casa”.
Senti – sejamos sinceros – que estávamos todos (as pessoas do Porto) com saudades do Mercado do Bolhão, e que a cidade precisava do regresso do Mercado do Bolhão.
E modéstia à parte, está tão bonito.
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Percorri as bancas existentes, deambulando entre cores, cheiros, entre bons dias e sorrisos e um outro café.
Subi e desci mais do que uma vez, pelas escadas que dizem subida, ou pelas escadas que dizem descida – escritas nessas mesmas letras de que temos memória, percorri os corredores e o varandim, e as sombras que se desenham dessa varanda, e que fazem as delícias de qualquer fotógrafo.
Descobri os elevadores – fazem sentido existir – e descobri a passagem para o metro, que como já referi é novidade, entrei e tornei a sair para explorar cada uma das (quatro) possíveis entradas.
E voltei mais demoradamente à banca da D. Bininha, banca de peixe fresco , e à da Sara –
refiro-me a estas duas bancas especialmente porque tenho várias fotografias da D. Bininha e da Sara tiradas por mim nos tempos do antigo Bolhão….., uma da D. Bininha em 2015 para um artigo do Viver o Porto na série Porto Unique Stories, e que convido a relerem.
Dizia na altura a D. Bininha:
“aqui somos todos uma família, e as tradições vão-se mantendo.
Adoro este contacto com as pessoas, e o dia-a-dia das pessoas do Porto.
Temos o coração na boca”
(Albina Ferreira – D. Bininha).
Tão verdade.
As pessoas do Porto têm o coração na boca, e o Porto tem um grande coração.
E este regresso do Mercado do Bolhão deixa-nos de coração cheio –
obrigada desde já e parabéns, a quem fez com que este regresso acontecesse.
***
Deixei o Mercado do Bolhão perto da hora do almoço, a vida lá fora continuava.
Vim com mais uma fotografia que fiz questão de tirar à D. Bininha, e outra à Sara, e com outras tantas que tirei ao acaso.
No regresso a casa já não tive boleia, mas viajei sentada num lugar à janela do andar de cima do autocarro 500, a paisagem era o rio e depois o mar e também essa paisagem é sempre uma paisagem tão Porto, o que nesse dia serviu para me abstrair (a custo) do excesso de turistas que me rodeavam em pleno 500 ….(este tema dará para outra crónica…..)
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À noite, já em casa, já de novo com o meu marido, e com os filhos a darem palpites contraditórios do que poderíamos cozinhar para o jantar,
vi os vários diretos partilhados nas redes sociais de quem foi passando nesse dia pelo Mercado do Bolhão:
e vi o Pedro Abrunhosa que deu um concerto surpresa mais ao final do dia, vi a Sara (a Sara da banca do peixe) ao lado dele a gritar os seus pregões, o Rui Moreira Presidente da Câmara que lá voltou e que só podia estar radiante de comovido,
vi um Mercado do Bolhão repleto, de alegria, de vida, e de pessoas que agradeciam.
***
Foi assim a reabertura.
Agora, o Porto e nós, seguimos os nossos dias.
E seguimos com a certeza de que o coração do Bolhão voltou a bater,
e com o slogan de que agora o Bolhão é para sempre, ….
Teremos de ser também nós, no entanto, a fazer com que esse coração, não páre de bater.
Quanto ao meu, coração, bate ainda e sempre muito forte, – por ti, marido – e pela minha cidade, o Porto.
Crónica Viver o Porto
Crónicas escritas ao correr da pena, por Paula Calheiros, autora do blog Viver o Porto.
Uma outra forma de sentir o Porto.
para ver mais crónicas, AQUI.
Rua Formosa
4000 – 214
Porto
8h-20h – segunda a sexta
8h – 18h – sábado
encerrado ao domingo
www.mercadobolhao.pt