A Lovers & Lollypops – editora e promotora musical portuense,
reconhecida por
dinamizar e promover
a cena musical independente,
emergente e irreverente do Porto, e do país,
completa este ano 20 anos, e vai celebrá-los,
no próximo dia 13 de Setembro,
com festa em grande nas piscinas municipais de Barcelos.
O local escolhido – as lendárias piscinas municipais de Barcelos –
é o mesmo que serviu de palco durante vários anos ao festival Milhões de Festa,
festival esse, que juntamente com o Festival Tremor, nos Açores,
têm o selo de produção Lovers & Lollypops.
Não resisti a ir felicitar todos pessoalmente,
e fazer uma pequena entrevista para o Viver o Porto, ainda antes da aguardada festa.
*** ***
Projetos como este são os que animam e dão alma a qualquer cidade,
e a Lovers & Lollypops tem o particular dom da irreverência e da curiosidade,
e de, através da música, nos levar a viajar por um Porto (ou Portugal)
tantas vezes desconhecido.
Às vezes por entre viagens ruidosas, outras nem tanto.
Mas seguramente sempre por viagens que nos desafiam.
Parabéns à Lovers, e que venham outros 20!
Segue-se em baixo, as fotos e a entrevista.
Foto da equipa atual da Lovers & Lollypops, à entrada da sede da Lovers, na Rua de S. Vítor, Bonfim
Joaquim Durães (Fua), Márcio Laranjeira, Ângela, José Gomes
Lovers & Lollypops
20 Anos
a entrevista decorreu na sede da Lovers, no Bonfim.
As respostas foram maioritariamente respondidas pelo membro fundador – Joaquim Durães (também conhecido por Fua) – uma vez que a Lovers foi inicialmente, um projeto a solo.
1 – Como surgiu a Lovers&Lollypops, ou, há 20 anos atrás, o que tinhas em mente quando criaste a editora?
Joaquim:
Não houve um pensamento muito estruturado, apenas uma vontade de fazer acontecer.
Tinha a minha vivência de Barcelona, onde em 2004 estive a fazer Erasmus. Barcelona na altura era uma cidade incrível, não estava tão pressionada pelo turismo como está agora, e tinha uma cena musical muito forte e dinâmica, com muitas editoras, não era como cá.
Quando regressei, em 2005, senti necessidade de emular o que tinha vivido lá, e comecei a fazer convites a bandas e a artistas que me eram próximos (com alguns desses artistas ainda continuamos a trabalhar).
Aconteceu tudo de uma forma muito inocente, sem nem saber exatamente qual era o papel ou a responsabilidade de uma editora.
Para dar palco aos artistas tornou-se muito importante pô-los em contacto com bandas internacionais que andassem em digressão pela Europa, e então depois nasceu a promotora.
2 – Pode-se dizer então que a tua referência, ou inspiração, para lançar a Lovers, foi Barcelona?
Sim, Barcelona com as suas editoras, e os seus artistas.
A partir sensivelmente do ano 2000, Barcelona recebia muitas bandas vindas dos EUA, bandas super entusiasmantes, e que foram muito importantes para uma primeira vida da Lovers.
A Lovers já teve muitas vidas, mas nesses primeiros tempos era muito circunscrita a certas bandas – como os Dream Machine de Barcelos, os Veados com Fome, de Santo Tirso, Os Lobsters, de Lisboa, os Fish and Chips, do Barreiro…….
bandas que viviam nas margens, e não tinham nem espaço nem palco para atuarem, e não era fácil encontrar esses espaços, mas sentíamos e sabíamos que havia público para elas, por isso fazíamos um grande trabalho de exploração para encontrar locais.
3 – Passados 20 anos, o que mudou, ou em que medida está diferente a cena musical, ou os vossos desafios?
Joaquim:
Os desafios há uns que se mantém, outros que são diferentes. Mas essencialmente, há 20 anos atrás isto era um hobby, não havia grandes responsabilidades, nem grandes dores de cabeça.
Agora, temos uma estrutura profissional, com compromissos e com necessidades para sobreviver.
Mas a nossa espinha dorsal mantém-se: o interesse em descobrir novos músicos, novos artistas.
Passados 20 anos estamos num momento em que há muito mais oferta, e muito mais coisas a acontecer, mas nós queremos continuar a ser relevantes naquilo que fazemos e naquilo a que nos propomos.
4 – O que vos dá mais gozo: editar discos ou realizar festivais?
Márcio:
As duas coisas têm peso igual, estão ligadas e complementam-se, até porque muitos dos festivais que realizamos são feitos com os artistas que editamos.
Tudo parte da edição, mas é igual.
5 – Os festivais que organizam têm uma ligação muito marcada e visível com o local/espaço onde acontecem. (como O Milhões de Festa, em Barcelos, o Tremor, nos Açores).
A comunidade envolvente tem um peso importante nas vossas decisões para o local?
Márcio:
Um festival é sempre uma celebração de um movimento, de um lugar.
Nesse sentido tem de ter uma ligação forte com o lugar onde é feito.
Mas o Milhões de Festa e o Tremor têm relações bastante diferentes com os locais.
Em relação ao Milhões de Festa, em Barcelos, sempre houve uma cena musical muito forte, havia um contexto, fazia sentido que fosse ali.
Já nos Açores não havia cena musical nenhuma, mas havia espaço, e uma comunidade muito dinâmica e com muito impacto, e que abraçaram o festival de forma diferente.
É uma outra forma de dar validação ao que estamos a fazer, e para que as pessoas sintam que aquilo que está a acontecer também é delas.
Já temos também muitos eventos em regime de franchising, em que não há qualquer ligação ao local onde está a ser feito o evento, e está tudo bem também.
Mas para nós é sempre muito importante que as coisas tenham ligação ao local, dando assim identidade ao que fazemos.
6 – Algum momento / episódio / festival que vos tenha ficado para sempre na memória, que tenha sido especialmente marcante?
Joaquim / Márcio:
Talvez o primeiro Milhões de Festa, em 2010.
Só tínhamos experiência de concertos em sala, e para poucas pessoas, ou só para algumas dezenas de pessoas.
Organizarmos o Milhões de Festa foi meter-nos numa coisa que não fazíamos a ideia da dimensão que ia ter.
Só quando estava a acontecer é que vimos “isto é real”.
6a – e correu muito bem, afinal?
Da primeira vez correu muito bem, da segunda correu muito mal………..
A nossa vida é feita de tentativa, e erro.
Uma dessas vezes acabou num jogo de futebol entre Portugal / Espanha – em que por Portugal era a equipa da organização, por Espanha alguns artistas de bandas espanholas, e acabou com uma costela partida do El Guincho….
Eram tempos em que fazíamos as coisas com muita inocência, mas com uma aprendizagem muito rápida e muito profunda das questões da indústria musical.
Desde a marcação dos artistas, o booking, a curadoria, produção, transporte……..
Tudo muito rápido,
e à flor da pele.
7 – Como procuram novos talentos, artistas?
Ou já são os artistas que vêm ter com vocês?
Joaquim:
Já recebemos muitas propostas.
Mas nós temos quase uma regra, ou algo que pelo menos é comum: gostamos de ouvir a banda ao vivo.
Se a banda nos “levar” a algum lado,…..gostamos.
E estamos sempre atentos aos artistas emergentes, construímos uma base a partir daí.
Márcio:
e também o artista X puxa pelo artista Y, vai havendo essa dinâmica.
Joaquim:
E agora temos este espaço felizmente, estamos aqui desde 2020 e temos a Cave, que desde 2022 funciona como espaço de apesentação – torna tudo mais fácil, temos maior capacidade, e conseguimos estar em proximidade com os artistas que gravitam, e também com o nosso público.
É muito bom.
8 – Estarem localizados aqui no Bonfim, e em proximidade com Campanhã, era importante para a Lovers?
São duas freguesias onde sei que fazem muita coisa….
Joaquim:
O Bonfim é um bairro bastante apetecível, para se viver, para se trabalhar.
É uma zona tranquila da cidade, e de acessos fáceis.
Durante muitos anos trabalhávamos em pequenos escritórios, mas começou-nos a faltar a ligação com o público. Encontrar este espaço era um desejo ativo, e que serve esse propósito.
Também muitas das relações de trabalho são com artistas que trabalham por aqui, ou por Campanhã, e essa relação de proximidade é muito boa. (por ex: com o João Pais Filipe, em Campanhã, os Cobrafuma, as Sereias, ou outros artistas do Centro Comercial Stop).
9 – (e agora, como este site é muito sobre o Porto e eu gosto sempre de saber….)
Um local favorito do Porto? Ou um local no Porto que digam, aqui sinto-me bem! ?
(com excepção deste em que estamos, naturalmente….)
Joaquim:
A Horta (comunitária) da Bananeira.
Desde o tempo da pandemia, que era o local para onde ia, para preservar a minha sanidade mental.
Márcio:
As Fontainhas.
É o local do Porto onde ainda existe um equilíbrio interessante entre as pessoas que cá vivem e trabalham e as pessoas que visitam a cidade. Ainda é como o Porto deveria ser.
Ângela:
As Fontainhas.
Talvez não seja o meu lugar favorito favorito, mas pela proximidade, é onde eu gosto muito de ir, às vezes para almoçar, outras vezes no final do trabalho.
José:
(para além deste local….)
….A minha casa.
E o Centro Comercial Stop – há 10 anos que é um lugar único e muito especial, espero que se mantenha por muito tempo.
10 – O que poderemos esperar da Lovers & Lollypops nos próximos 20 anos?
Enquanto a chama inicial arder, enquanto esse mote fizer sentido, é para continuarmos!
Obrigada!!!!
e Parabéns!
Venha lá a Festa!
13 Setembro 2025
20 anos da Lovers & Lollypops.
Festa com Concertos
nas Piscinas Municipais de Barcelos
14h – 20h
Lovers & Lollypops
Rua de S. Vítor 143 A
4000-515 Porto
Entrevista, Fotos e Texto:
Paula Calheiros (Viver o Porto)
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