Um projeto lindo, levado a cabo por pessoas lindas, e que merece tanto ser partilhado, falado e divulgado, e cada vez mais apoiado.
Falo do Prison Yoga Project Portugal
– um projeto que tem como missão levar o Yoga e a meditação às prisões,
ambicionando em breve estar presente em todos os estabelecimentos prisionais do país.
O Projeto mãe nasceu nos Estados Unidos da América em 2002 pela mão de James Fox,
tendo-se espalhado desde então para outros pontos do mundo,
até recentemente ter chegado a Portugal.
O Prison Yoga Project Yoga Portugal conta neste momento com 25 professores de Yoga – professores de Yoga certificados , em Yoga e em Prison Yoga, que voluntariamente e altruisticamente dedicam uma parte do seu tempo a dar aulas de Yoga, para já em 7 Estabelecimentos Prisionais em diferentes partes do país.
Juntou-se assim um grupo de pessoas, vindas de diferentes áreas e com diferentes experiências de vida, mas com a consciência da importância da recuperação e reinserção social dos reclus@s na sociedade portuguesa.
***
Acompanho o projeto com muita admiração já há algum tempo,
e conheço pessoalmente algumas pessoas envolvidas, incluindo a diretora e fundadora do Prison Yoga Project em Portugal, Inez Aires, pelo que não resisti a pedir-lhes (à Inez e a mais duas professoras) os seus testemunhos desta experiência para o Viver o Porto.
Leia tudo, no texto em baixo.
(nota: não estive pessoalmente em qualquer prisão, as fotos com as entrevistadas são de outros locais)

foto retirada do FaceBook oficial do Prison Yoga Project Portugal
Prison Yoga Project Portugal

Inez Aires @yellowsmileystar
Testemunho da Inez Aires.
Inez Aires é a diretora e mentora do Prison Yoga Project Portugal, e dá aulas no Estabelecimento Prisional de Sintra.
Já apresentou o Prison Yoga Project Portugal no TedX Porto em 2018, (pode ser visto aqui).
1 – O que te levou a iniciar o Prison Yoga Project em Portugal?
Sempre tive particular interesse nos projetos de Yoga social, e quando descobri o Prison Yoga Project dos EUA criado pelo James Fox, fui até lá, conhecê-lo pessoalmente, ver como tudo funcionava.
Fiz com eles o curso de Formação em Prison Yoga (Trauma Informed Yoga) , e no final propus trazer esse projeto também para Portugal, e foi aceite.
A minha visão do mundo e os valores pelos quais luto está muito direcionada para que se possa alterar a forma como as pessoas passam o tempo dentro das prisões, no sentido de se lhes dar ferramentas para que possam trabalhar a sua consciência.
No fundo as prisões funcionam um bocadinho como os Ashrams (locais para a prática de retiros de Yoga e Meditação na Índia), pelo que idealmente deveriam funcionar como um lugar de recuperação, onde o indivíduo trabalha a sua consciência, onde possa ter capacidade de se observar, de se questionar e acima de tudo onde consiga observar as suas emoções, antes de ser devolvido novamente à sociedade, para que não reincida.
II – Como foi a receptividade inicial a este projeto? Tanto da comunidade dos professores de Yoga, como das entidades responsáveis pelas prisões?
A recetividade foi excelente em quase todas as comunidades.
Quando lancei o desafio e fiz o “call”, vários professores de Yoga responderam ao chamado. Faz muito sentido para a maior parte dos professores de Yoga dar aulas dentro de uma prisão, e continuo a receber contactos de vários professores interessados em fazer parte, e isto é em regime voluntariado.
Em relação à comunidade em geral, a receptividade também tem sido muito boa, há sempre pessoas que perguntam mas porquê dar aulas a reclusos, porquê fazer isso, ?
Eu tento-lhes fazer ver que no limite isto é um projeto de segurança pública.
Neste projeto não estamos só a ajudar seres humanos, estamos essencialmente a ajudar uma população específica que precisa muito destas práticas, (posturas, meditação, mas essencialmente do relaxamento) e nem sequer tem acesso à internet, para poder fazer ou procurar aulas.
(eventualmente poderá ver em alguns livros).
Por isso achamos muito importante criar este livre acesso a uma população que precisa muito, pois vive num ambiente de prisão.
Os únicos pequenos atritos que às vezes temos é com os guardas prisionais, que estão sempre mais alerta e desconfiados.
III – E com os reclus@s, como está a ser a experiência?
Está a ser excelente.
Eles são os maiores beneficiários, pois na aula de yoga é onde encontram paz, e onde se sentem “livres” do lugar onde estão.
Sentem essa sensação de liberdade numa prisão, e deixam transparecer o agradecimento.
Eles próprios nos questionam o que estamos ali a fazer, pois sabem que vamos em regime de voluntariado, …..
IV – Quantas prisões já fazem parte do projeto e quantos professores?
-Neste momento já somos 25 professores, a dar aulas de yoga em regime de voluntariado em 7 estabelecimentos prisionais.
A ambição é chegar a todas as prisões do país.
V – Alguma mensagem especial para o futuro, ou um “sonho” no âmbito deste projeto?
– Um dos sonhos é que o Yoga seja uma disciplina que faça parte do sistema prisional, como fazem parte as aulas de português, por exemplo.
No final do terceiro ano de projeto vamos fazer esta proposta ao Ministério de Justiça.
E o objetivo máximo é chegar como já referi a todas as prisões do país e com isso melhorar um pouco a forma como é olhada a justiça e o castigo.
Em vez de nos focarmos numa justiça punitiva, foquemo-nos numa justiça que seja regenerativa e transformadora.
Obrigada!

foto retirada do FaceBook oficial do Prison Yoga Project Portugal

Joana Pessanha (JAP STUDIO)
Testemunho da Joana Pessanha.
A Joana dá aulas no Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária do Porto desde o início de 2023.
É um estabelecimento prisional masculino.
I – O que te levou a participar no Projeto Prison Yoga Project Portugal?
– Mal tive conhecimento do projeto soube logo que queria participar. Tinha na minha memória de adolescente os relatos de uma Tia que também dava aulas numa cadeia, tendo essa vivência sido muito transformadora para ela. Essas memórias abriram caminho para eu agora estar a fazer parte deste projeto cá em Portugal.
Para além disso, acredito que as pessoas que estão presas precisam de ferramentas de integração, essas ferramentas são mesmo muito importantes, e o Yoga pode ser uma ferramenta fundamental, como forma de os reclus@s trabalharem a sua pessoa e o momento em que vivem.
II – Como está a ser a experiência?
– A experiência está a ser maravilhosa.
Saio das aulas sempre maravilhada, pois sinto da parte dos participantes um agradecimento profundo, mesmo sem precisarem de dizer alguma coisa.
No shavasana (postura final da prática de yoga, em que se está deitado de barriga para cima, simplesmente, e de olhos fechados), eles rendem-se completamente e sinto todo o respeito deles por quem está ali a guiá-los.
É espetacular, é um momento muito intenso, que me preenche.
Obrigada!

foto retirada do FaceBook oficial do Prison Yoga Project Portugal

Cássia Rodrigues (Cássia Camirim)
Testemunho de Cássia Rodrigues.
A Cássia dá aulas no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, desde Abril de 2022.
É um estabelecimento prisional feminino.
I – O que te levou a participar no Projeto Prison Yoga Project Portugal?
– Acredito no poder do auto-conhecimento, da auto-regulação e no poder da respiração e da meditação. São instrumentos a que todos deveríamos ter acesso, especialmente as classes menos privilegiadas.
Nestes casos em que o corpo se encontra em condições muito especiais – está dorido, preso, a viver em condições básicas, é essencial pelo menos existir a possibilidade de ensinar quem está nessa situação a libertar a mente, o espírito, mostrar-lhes que podem ter controle sobre as emoções e que o tempo serve também para se cuidarem e conhecerem-se melhor.
II – Como está a ser a experiência?
– A experiência está a ser incrível.
Realmente o nosso corpo é um mecanismo complexo e inteligente, o ser humano precisa de atenção e paciência para que lhe seja mostrado o seu potencial, aprender sensações e mecanismos básicos que lhe traga atenção ao corpo e à consciência, revelando-lhe assim o seu subconsciente.
Este projeto é realmente incrível, e sinto que as reclusas adoram, e que lhes faz realmente bem.
Nota-se uma evolução – obviamente com dias mais positivos do que outros – mas é muito lindo presenciar a descoberta, a curiosidade, com um olhar como se fossem crianças.
Por vezes também há teimosias ou birras, mas que se quebram com uma respiração de grupo ou com uma visualização.
Sinto-me muito otimista com os resultados, e tenho muita esperança que este projeto cresça e seja ainda mais suportado!
Obrigada!
Prison Yoga Project Portugal
contactos
Almaz| yoganasprisoes@gmail.com
T: +351 938 437 299
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