Crónica de fim de temporada, em jeito de ode aos festivais (de música)

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Crónica de fim de temporada, em jeito de ode aos festivais (de música)

Crónica de fim de temporada,
em jeito de ode aos festivais
(de música)

Uma Crónica Viver o Porto,
por Paula Calheiros

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Este ano falhei o Festival Boom, (que adoro) e também não fui ao Festival Paredes de Coura, nem à estreia do Meo Kalorama, com pena (ver o Nick Cave ao vivo valeria cada cêntimo, ou cada kilómetro percorrido…)

Mas do lado dos festivais a que fui, contam-se uns quantos e com belas memórias ainda coladas na pele, que gosto de fazer perdurar.

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Vivi em pleno os três dias do Primavera Sound, festival que acompanho desde a primeira edição e que , somando todas as outras razões, acontece aqui, mesmo ao lado de casa.
Não faltei ao Festival Elétrico, no Parque da Pasteleira, e muito recentemente, também não faltei ao Festival Maracujália, no Terminal de Leixões.

Já fora do Porto, fui pela primeira vez ao Neopop, festival de música electrónica que tem lugar na zona portuária de Viana do Castelo, e que já vai na décima quinta edição,….incrível, como é que eu andava distraída??
Deixei-me levar pela onda techno e no último dia fiz direta, até às 9h30 da manhã, o que já não acontecia talvez há mais de 20 anos….

Apesar de exclusivamente  noturno, (mas que acaba cedo) encantei-me com o Festival L’Agosto, em pleno centro da cidade de Guimarães, no jardim do Museu Alberto Sampaio; e voltei ao festival Vilar de Mouros, que me está sempre no coração, vestindo-me de nostalgia e intensas memórias de quando tinha 16 anos.

Num outro registo, (que não os festivais de verão) e de novo no Porto,  vivi entusiasmada o Festival Dias da Dança, no Rivoli, a primeira edição do Porto  Cello Festival (que se desdobrou em várias salas de espetáculo, com concertos incríveis aliando o violoncelo a outros instrumentos e improváveis formas de estar (por exemplo, uma aula de yoga, ao som do violoncelo); também acompanhei o Porto Piano Fest, que igualmente se distribuiu pela cidade, levando-me a conhecer um miradouro menos falado num restaurante mais escondido do WOW, ou voltar ao salão árabe para um maravilhoso concerto de piano.

Faltam-me conhecer muitos outros festivais que sei que são sempre bons, como por exemplo o Tremor nos Açores e o Cem Soldos em Tomar, ou o Festival Músicas do Mundo, em Sines.
E neste verão deixei de parte os festivais mais holísticos, de yoga e bem estar, que também gosto tanto.
Virão a seguir.

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A minha intenção não é a de colecionar festivais para mostrar que lá estive, nem esta crónica pretende mostrar a quem quer que seja o que andei a fazer.
De todo e pelo contrário.

crónica viver o porto

É mais em jeito de partilha,  e de dar a conhecer o que de bom vai acontecendo por aí – e que vou registando sempre no Viver o Porto

Mas a verdade é que comecei esta crónica quase como que num olhar para dentro, numa análise profunda dos meus dias, num diálogo comigo sobre a minha forma de estar, e de envelhecer.

Muitos amigos e amigas (e muito e sempre a minha mãe) me perguntam frequentemente “como consegues estar em todo o lado??, como tens energia para fazer tanta coisa ??, ou “tu não perdes uma”….

Tenho 54 anos e uns pais a precisarem cada vez mais de mim.
É  o ciclo normal da vida, mas que às vezes nos chega sem estarmos preparados. Queria os meus pais ali, sempre de boa saúde, sempre no jeito deles a desfrutar dos dias.
Infelizmente, já não é assim.
E isso bate-me tão forte que me faz querer agarrar a vida ao meu jeito, os dias voam e a vida voa, e um dia também já eu não serei assim.
(se derem por mim quieta e calma, muitos dias seguidos no sofá, desconfiem….)

Tenho 54 anos e dois filhos rapazes praticamente a sair da adolescência.
Também é o ciclo normal da vida, mas também muitas vezes, a adolescência e o seu pós, nos bate forte sem estarmos preparados – os filhos não são quase nunca o que nós queremos que eles sejam, são simplesmente eles, com mais ou menos de nós, a seguirem a vida – a deles.

E é assim que tem de ser.

Daí esta minha ode aos festivais, especialmente aos festivais de verão.
São por norma um verdadeiro estudo sociológico, um emaranhado de gente, de gerações, de culturas, de diversidade, e onde eu –
deambulando lá pelo meio da multidão (grande parte das vezes em reportagem e a fotografar)

 – retiro enormes lições, ou ilações :

Descobrimos outras realidades, outras pessoas, outras formas de estar.
Descobrimos pessoas novas e velhas, às vezes muito novas e outras muito velhas, descobrimos pessoas não importa a idade, mas com quem, quantas vezes improvavelmente, nos identificamos.
Descobrimos muitos mundos à parte do nosso, novas bandas, nova música, e tantas formas diferentes de dançar.

Descobrimos essencialmente que o importante, à parte das tatuagens, dos piercings, dos cortes nas sobrancelhas ou do estilo de cabelo, das calças rasgadas, ou de qualquer forma de vestir ou de estar, é a capacidade que cada um tem de ser feliz, de passar pela vida,  e se assim bem o quiser, de poder dançar.

E descobrimos que o que às vezes estranhamos e não entranhamos à primeira nos nossos filhos, está ali de mão cheia e à vista, numa geração que já não é a nossa, é antes a deles, e que só nos resta aceitar.

E por isso a minha ode aos festivais (de música) , ou a todos os eventos que nos fazem sentir vivos, que nos fazem viajar, perceber melhor o mundo, o nosso e o dos outros, que nos faz estar, dançar, viver, que nos faz acontecer!

Que possamos sempre, e por muito tempo, continuar vivos, ir a festivais e gozar os dias.
Que possamos sempre e enquanto a vida nos deixar, abraçar com força os nossos pais, e, mesmo que eles não queiram, (ou ainda não dêem o devido valor) abraçar com força, os nossos filhos.

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Nova Temporada
Vem aí a nova temporada, (e já no fim de Setembro um novo festival na cidade do Porto, e de acesso gratuito,  – o Mimo Festival).

Por aqui fervilham ideias novas para o Viver o Porto.
Espero conseguir continuar a acompanhar tudo o que o Porto nos vai proporcionando, partilhando com energia e alegria tudo o que dignificar a cidade.
Vamos Viver bem a Cidade.

P.S
O foco editorial do Viver o Porto deste ano será a cultura, os eventos, e também e sempre….as pessoas.
Mas qualquer ideia que achem pertinente e gostassem de propor, estou aberta a ideias, é só entrarem em contacto comigo através do e-mail mearounporto@gmail.com.

Obrigada do coração,
a quem continua por aqui.

Paula Calheiros (autora Viver o Porto)

Crónica Viver o Porto

Crónicas escritas ao correr da pena, por Paula Calheiros, autora do blog Viver o Porto.
Uma outra forma de sentir o Porto.

para ver mais crónicas, AQUI.

By | 2022-09-08T10:16:09+01:00 September 7th, 2022|chronicles|0 Comments

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